02 março, 2016

15 dias fullyraw

Dia 15 de Fevereiro iniciei o meu desafio "1 mês 100% cru"
Na verdade não pensei que sentiria grande diferença, uma vez que já estou a fazer uma alimentação bastante crudívora desde setembro, como já escrevi aliás em um post anterior.
Comecei por aumentar a quantidade de alimentos vivos/crus nas minhas refeições e em pouco tempo comecei a fazer uma alimentação 80/90% crua que é como quem diz: no meu dia-a-dia fazia uma alimentação crudivegana mas uma vez por outra incluía alguma coisa cozinhada ou abria alguma excepção quando fazia refeições fora com algum a amigo ou familiar.
Comecei rapidamente a sentir os benefícios desta alimentação. Quando eu digo rapidamente foi mesmo tipo... uma semana depois. 

- intestinos a funcionar bem
- pele mais limpa e hidratada
- aumento de energia
- digestões rápidas e fáceis
- noites bem dormidas

Outras coisas que senti e que foram o maior beneficio de todos foi:

- comer sem culpas
- comer em abundância
- perceber a ligação emocional que tenho com a comida
- enfrentar alguns bloqueios emocionais 
- conseguir falar sobre problemas do passado

Esta relação emocional que nós temos com a comida é incrível. E é incrível como este tipo de alimentação nos faz confrontar com isso. Mas isso eu só entendi verdadeiramente agora, passados 15 dias de começar a fazer uma alimentação 100% crua e 5 meses e meio depois de me aventurar pelo crudivorismo.

Estes 15 dias não foram nada fáceis, tenho que admitir. Eu não tenho a certeza de querer fazer uma alimentação 100% crua no futuro. Tenho cada vez mais a certeza que este tipo de alimentação é a mais saudável para o nosso corpo e estado emocional, no entanto vejo-me mais a fazer uma alimentação predominantemente crua onde de vez em quando possa incluir alguns alimentos cozinhados sem gorduras ou abrir uma excepção e comer algo que me apeteça, porque a vida é curta e eu adoro comer. Uma coisa eu sei: jamais conseguirei voltar a comer como comia. A alimentação crua e viva veio para ficar na minha vida.

A maior dificuldade que senti nestes 15 dias foram os desejos (cravings) que senti por coisas muito especificas. Aliado a estes desejos vinha uma sensação que me é muito familiar de descontrolo alimentar. Essa foi a parte mais difícil. Constantemente tive o meu pensamento a gritar com plenos pulmões: "-batatas fritas com chouriço de soja e natas, tofú frito com cebola, batatas fritas, chamuças de soja, esparguete, tiras de milho fritas, pão, pão com manteiga" tão alto que dava por mim parada no corredor do supermercado, tentada a encher o carrinho com tudo e mais alguma coisa e ir para casa a correr. Mas nunca fui. Consegui sempre resistir e esses desejos foram ficando cada vez mais pequenos e mais pequenos até serem apenas uma vontade de comer isto ou aquilo, um dia destes. E sabem que mais? Comerei! Mas comerei quando eu quiser, quando eu decidir e não quando o meu estado emocional o desejar. 
O meu corpo está a curar coisas mal resolvidas. E a prova disso é como de há uns meses para cá tenho conseguido falar dos problemas alimentares que tive em tempos. Estou a enfrentar isso. 
Também ando lamechas. Ando super emotiva e nostálgica. Emociono-me facilmente. A ler, a ouvir uma música, a ver um filme (isso sempre foi...) a ouvir alguém, a pensar em alguém... mas sei que isso é normal. Faz parte do detox.
A minha pele também acusou esse detox. Tive algumas borbulhas. Entre outras alterações que o meu corpo está a sofrer, mesmo ao nível da menstruação.

Continuarei rigorosa durante mais 15 dias. A decisão de fazer 1mês  não é mais do que dar tempo para que as alterações sejam visíveis e acima de tudo para lidar com as questões emocionais.
Está a ser extremamente reparador. Sinto-me inspirada e motivada. Sinto-me muito grata por ter tido a oportunidade de conhecer tudo isto.
Porque é que eu escrevo tudo isto? Porque se houver pelo menos uma pessoa a ler isto e a sentir-se motivada a mudar para uma alimentação mais saudável, já valeu a pena partilhar.



spaveggie de manga

1 courgete (espiralizada)
1 cenoura (espiralizada)
tomate cherry
molho:
1 manga+ 1 dente de alho+ uma pitada de pimenta (varinha mágica)



bacci










05 fevereiro, 2016

Professores de expressão artística - de que é que estamos afinal a falar?

Deixem-me falar-vos do que é ser um professor de ensino artístico em Portugal.
Maior parte dos artistas acabam por dar aulas em alguma altura da sua vida. 
Apesar de muitas pessoas acharem que isso é uma medida desesperada para ganhar dinheiro por não se ter sido bem sucedido na área escolhida ( sim, eu já ouvi muitas pessoas dizerem "quem sabe faz, quem não sabe ensina") , dar aulas é não só uma oportunidade maravilhosa de partilhar conhecimentos com outras pessoas, enriquecendo o seu percurso independentemente da idade e profissão desejada, como uma oportunidade infinita de aprender mais sobre a nossa área. É que há algo de maravilhoso e mágico na questão "ver fazer" que só quem gosta mesmo do que faz é que percebe. Sou muito melhor profissional desde que dou aulas, porque vejo o outro pôr em pratica. Vejo o outro crescer, tentar, falhar, ganhar. Isso é o melhor ensinamento que alguma vez poderei ter na vida. Mas isso nem todos percebem...
E há pessoas que são excelentes professores, ainda bem.
É verdade que muitos acabam por dar aulas para subsistir e não por vontade, mas isso é tão válido como outra coisa qualquer. Nada disso invalida que dar aulas de expressão artística seja super benéfico para os alunos e é impossível não entender a importância destas disciplinas na vida das pessoas.
Falemos de crianças:
Não vou sequer argumentar os benefícios destas aulas e de como são fundamentais para a educação e formação das crianças. Não só no seu dia-a-dia mas tendo em conta que essa formação é o pilar dos seres humanos que serão amanhã. Futuros cidadãos desta sociedade. Isso é outro assunto, tão batido e tão óbvio que não vou perder tempo a falar sobre ele.
Vou mostrar-vos a realidade que vive actualmente um professor de expressão artística em Portugal.

Actualmente (hoje é dia 5 de Fevereiro de 2016) dezenas ou centenas de professores estão sem receber ordenado do último mês. Não é a primeira vez que isto acontece. Não será a última. 
A verba para pagar o trabalho dos professores está disponível na DGESTE, mas o tribunal de contas ainda não autorizou a transferência das mesmas para que as entidades responsáveis paguem aos professores.
Os professores ficam sem receber. Ficam sem pagar contas. Ficam sem comer. Ficam sem dinheiro para se transportarem até ao trabalho. Ficam sem trabalhar. Ficam sem receber. Não interessa.
É-nos pedido compreensão. Lembram-nos que os mais lesados com isto tudo são as crianças numa tentativa de nos pedir subtilmente que não deixemos de ir trabalhar. Serão?

Os horários dos professores têm vindo a diminuir. O número de professores também. Muitos agrupamentos já nem exigem uma licenciatura na área. Muitos nem uma licenciatura sequer. Podem pagar menos se a pessoa não for licenciada.
Há professores que passaram de 15 a 20 horas de aulas por semana para horários de 4 ou 5 horas de aulas por semana. Isso significa uma ou menos horas de aulas por dia. Isso significa nem receber 200€ por mês. Alguns agrupamentos oferecem contratos aos professores de ensino artístico, outros (quase todos) trabalham com o regime de recibos verdes. 

Cada agrupamento tem as suas condições e em alguns funciona melhor que em outros, claro.

Muitos professores vão á escola dar uma hora por dia. Não se integram na comunidade escolar. No fim do período lectivo têm avaliações e reuniões sobre uma turma que mal conhecem. Ninguém sabe quem eles são ou o que fazem. Muitas vezes nem a disciplina que dão.

Na escola onde dou aulas, tenho miúdos que me chamam "teacher". Auxiliares que acham que sou de expressão plástica. "Sou de expressão dramática" insisto. Não é por mal. Não me conhecem, e os professores não se aguentam mais do que um mês lá, estão sempre a mudar. Estou lá há 4 meses e não sei quem é a directora da escola. Não tenho como saber, só lá vou uma hora ao fim do dia.

As aulas começam tarde, normalmente em Outubro ou Novembro. Vão deixando para depois as AEC's (actividades extra curriculares) e quando percebem que buracos precisam de tapar nos horários, começam à procura de professores.

As minhas turmas têm duas horas comigo (uma hora em cada dia).
Dou expressão dramática dentro de uma sala de aula cheia de mesas e cadeiras. O espaço exterior que existe é dividido entre dois professores de educação física e desportiva que fazem o milagre da multiplicação de espaço e material. Isto se tiverem a sorte de não chover.

Eu faço o milagre da multiplicação do tempo para que a hora que tenho com eles chegue para arredar o mobiliário todo de modo a criar algum espaço com eles para poder fazer algum exercício no tempo entre arredar e voltar a arrumar. Não sou ambiciosa. Não espero que eles aprendam grande coisa neste tempinho.. espero que eles desanuviem um pouco das infinitas horas que passam dentro da sala de aula. Precisam de falar, precisa, de ser ouvidos. Precisam de desanuviar um pouco.

Destas duas horas semanais que tenho com eles só metade da turma tem acesso na totalidade, porque a outra metade tem religião e moral ao mesmo tempo da minha disciplina. Sim, eles têm que escolher entre Deus e o teatro. Ficam sempre tristes não porque não queiram ouvir sobre Deus, mas porque também queriam fazer a minha aula. Mas  ao mesmo tempo, aprendem desde pequenos que não se pode ter tudo na vida. A escola coloca duas disciplinas em simultâneo. 

A minha aula é muitas vezes interrompida por meninos que saem porque os pais os foram buscar mais cedo. Os pais chegam e eles saem. Não interessa se estão a meio da aula. 

Os professores das AEC's não são bem professores, são vistos como uma espécie de animadores. Estamos ali para fazer o teatrinho da escola, o concertozinho de natal, o placardzinho de artes plásticas da feira. a lembrançazinha para o dia da mãe ou o desenhozinho para o dia do pai. Estamos ali para tudo, menos para ajudar os miúdos a crescer artisticamente e a descobrirem que têm uma voz criativa dentro deles. 
Que mundo seria este se esta voz criativa fosse incentivada, descoberta e vista como o pilar da formação de um indivíduo? Pergunto-me muitas vezes: Como seria o mundo se todos fossemos incentivados desde pequenos a usar ferramentas artísticas e a descobrir a nossa forma de expressão? A olhar para os outros como seres capazes sem limitação alguma. Onde todos pudéssemos descobrir a nossa individualidade e sermos valorizados por isso descobrindo a nossa forma de expressão na sociedade ao invés de nos tentarem formatar segundo um qualquer modelo e tornarem-nos todos uniformes?

Continuamos a olhar para a Arte do ponto de vista errado. A arte não serve para entreter. As disciplinas artísticas deveriam ser tão importantes como a matemática ou o inglês.
Mas não são.

Beijinhos